segunda-feira, 10 de março de 2014

Reflexão sobre o Carnaval

Queridos Pais, Mães e Amigos e Amigas,

Iniciamos o ano letivo comemorando os festejos carnavalescos que nos contagiam e encantam com toda a riqueza cultural, característica do nosso país e, especificamente, da região do nordeste. 
Deparamo-nos, no entanto, com o distanciamento do conhecimento dos símbolos inerentes a esta festividade, sua história e sua relação com uma das festas Cristãs mais importante, a Páscoa.
Existem inúmeras informações sobre as origens históricas do carnaval. Porém, o que nos interessa é o que de fato, simbolicamente, a representa, em termos de alimento para a alma, com toda a magia que lhe é peculiar. 
É sempre bom lembrarmos que as crianças são “pura imitação”, e, assim, é fundamental que nós, adultos, possamos vivenciar cada época imbuídos dos significados e simbolismos que a permeia, tomando cuidado para que não entremos no automatismo do fazer porque todos fazem. O caminho para isso é entender o que está por trás de cada evento como este, sua relação com os fenômenos da natureza.
Nesse sentido, compartilhamos o texto do escritor Eduardo Amarantes que aborda, de forma bastante interessante, aspectos históricos e simbólicos do carnaval. Esperamos que o mesmo desperte, em cada pessoa que o leia, a vontade de aprofundar o seu conhecimento sobre a origem e o sentido das festas anuais celebradas em nossa escola.

Boa leitura!
Jardim alecrim Recife
Recife, 28 de fevereiro de 2014

Autor da Obra: Bajado


O Carnaval (Por Eduardo Amarante)

O Carnaval, mais conhecido no meio rural como Entrudo (introitus, entrada) é um rito de passagem de um tempo velho para um tempo novo. Teve a sua última forma expressa nas Saturnais romanas, que compreendiam um conjunto de ritos visando a expulsão das forças malignas do Inverno, em vista da renovação da natureza.

Trata-se, fundamentalmente, de uma cerimônia de purificação de fim de inverno (a morte que precede a vida) para dar início a um novo ciclo de fertilidade.

Originariamente, nessa ocasião acontecia um conjunto de ritos, tais como purgações, procissões mascaradas (as máscaras representam as almas dos mortos que apelam à vida, e a morte do Inverno), extinção e reactivação do fogo, com vista à destruição de tudo o que representava o tempo passado, para dar lugar, com o reavivar do fogo, à criação, à restauração das formas.

Estes dias de festa são caracterizados por uma licenciosidade sem malícia que funciona como uma catarse colectiva (abolição das formas, regresso ao caos, prenúncio de uma nova ordem, de um renascimento colectivo), onde se assiste à exteriorização da própria alegria. Nas aldeias de Portugal esta festa é “inteiramente espontânea e desorganizada. O trabalho é interrompido durante os três dias gordos, a ruptura com o quotidiano é total.

Em terras transmontanas, os festejos dos três dias de Entrudo correspondem às Bacanais de Março. Celebrizam-se pelas grandes comezainas, mascaradas e bailes.

O Carnaval é a expressão de antigos cultos agrários associados ao Sol. Em certas localidades queima-se ou mata-se o Meco, figura de palha que simboliza o Inverno ou a morte invernal da natureza. Desse modo, esta festividade aparece como vestígio remoto das cerimônias de purificação das forças malignas do Inverno, com vista à renovação da vegetação, cerimônias essas que, reforçamos, tiveram sua última forma de expressão nas Saturnais romanas.

Originariamente comportavam o sacrifício anual do Rei, que transparece nos actuais enterros do Entrudo nas suas várias formas, nas lutas do Verão e do Inverno, expulsões da Morte, etc., e caracterizavam-se pela sua total licenciosidade, prenunciando magicamente a alegria causada pela abundância que se adivinhava. O Carnaval mergulha a sua raiz mais funda numa cerimônia de carácter religioso em vista da fertilidade.